quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Albertina Paz

O POVO BRASILEIRO


Ribeiro, Darcy. O Povo Brasileiro: Procura explicar por que, e como, os brasileiros são o que são. Por que o Brasil ainda não deu certo? São Paulo, 2ª Edição, 2000.

Resumo: Trata-se de uma tentativa de tornar compreensível, por meio de uma explanação histórico-antropológica, como os brasileiros se vieram fazendo a si mesmos para serem o que hoje somos. Uma nova Roma, lavada em sangue negro e sangue índio, destinada a criar uma esplêndida civilização, mestiça e tropical, mais alegre, porque mais sofrida, e melhor, porque assentada na mais bela província da Terra.
MATRIZES ÉTNICAS
Desde o inicio da colonização até os nossos dias, as terras indígenas foram motivo de cobiça e de interesse. E nas disputas com brancos, os grupos indígenas sempre levaram desvantagem.
Os índios foram os primeiros habitantes das terras que hoje formam o Brasil. Quantas pessoas desses povos existem hoje em nosso país? Quantas eram no passado? Quantas serão no futuro?
Neste capitulo, Darcy Ribeiro fala da principal raça encontrada no Brasil pelo portugueses, a nação Tupi. Os primeiros contatos com os portugueses e Tupis não foi nada harmônico, houve desentendimentos e brigas. Os indígenas revoltaram – se com as condições de trabalho impostas a eles, porque estavam sendo escravizados e declararam guerra aos brancos.
Além das guerras com os portugueses, os Tupis viviam em desarmonia com outras tribos de mesma raça e cultura, que estavam alojadas em sua área de expansão. Os conflitos eram sempre pela disputa de terras.
Durante esta disputa entre brancos e índios, até rituais de antropofagia aconteceu, sem falar no genocídio da nação Potiguara e da morte de 4 mil paulistas pelos índios Tupis. Em um discurso de um líder indígena chamado Marçal Tupã, pertencente à nação Guarani – Nhandura, feito ao papa João Paulo II, por ocasião de sua visita ao Brasil em 1980, ele disse: “Nossas terras são invadidas, nossas terras são tomadas, os nossos territórios são invadidos... Dizem que o Brasil foi descoberto, o Brasil não foi descoberto não, Santo padre. O Brasil foi invadido e tomado dos indígenas do Brasil. Essa é a verdadeira história”.
Enfim posso concluir que nos dias de hoje isso ainda acontece, e finalizo com um trecho da entrevista de Darcy Ribeiro feita pela jornalista Paula Saldanha em 1996, onde ele faz um retrato da nossa gente.
ENTREVISTA:
PS: Afinal, Darcy, quem é o povo brasileiro?
DR: Nós todos, somos uma mistura de índios da floresta com negros arrancados da África trazidos para cá, com europeus. Misturando, mesclando essa gente todo nós fizemos um povo mestiço na alma e no corpo e, também, no plano da cultura, porque largaram a cultura européia quando vieram para cá e aprenderam a sabedoria do povo da floresta.

MOINHOS DE GASTAR GENTE
Dando seqüência ao primeiro capitulo, as indagações continuam: Qual a sua descendência? A sua família descende de algum povo indígena? Esta é a maior curiosidade de muitos moradores do nosso país, quando querem descobrir a sua origem.
A presença portuguesa na formação do povo brasileiro do povo brasileiro teve inicio com a chegada desse grupo a terra brasileira. Da união dos portugueses com os índios nasceu o mameluco, que foi chamado de “brasilíndio” pelos jesuítas. No Brasil os mamelucos eram o centro da nação, juntamente com os negros africanos.
Somos um país miscigenado. Diogo Álvares Correia, o “Caramuru” contribuiu para isso, quando se uniu a índia Cataria Paraguaçu. Quando os jesuítas usaram a expressão brasilíndios, acredito que eles se referiram a união de brasileiros com qualquer pessoa de outra nacionalidade, não somente a união com índios.
Para Darcy Ribeiro, onde quer que exista uma nação indígena, mesmo tendo sido agraciados com estudos, eles conservam suas tradições e preservam sua identificação étnica.
O tema Brasil dos portugueses e africanos começou em 22 de abril de 1500, ano da sua descoberta.
A chegada dos escravos africanos ao Brasil também contribuiu para o, aumento da nossa miscigenação. No inicio essa contribuição não foi muita relevância para a formação do povo brasileiro, pois eles trabalham apenas como escravos. Com o envolvimento dos senhores donos de engenhos, que muitas vezes pegavam suas escravas a força e com elas tinham relações, os negros tal qual os brancos a partir daí, começaram a integrar – se na etnia brasileira.
Sabemos que nós brasileiros, somos grupos formadores do nosso povo. Tanto brasilíndio, afro-brasileiros, neo-brasileiro, europeus (em especial os portugueses), africanos e um grande grupo de imigrantes que vieram de outros países para viver no Brasil e colonizar o nosso território.
O processo de construção da etnia brasileira foi o mais variado possível. Povos de diferentes origens e línguas continuaram chagando ao nosso país. Uma diversidade de nações: Suíços, italianos, japoneses, coreanos, cheneses, árabes, judeus, canadenses, além de povos latinos americanos, como os peruanos, chilenos, bolivianos e paraguaios. Pessoas de diversos países do mundo se misturaram a nós brasileiros.
Após tantos relatos, Darcy Ribeiro conclui que o Brasil é um país multirracial.

O ENFRENTAMENTO DOS MUNDOS
Os índios estavam preocupados com a presença dos invasores. Pessoas de várias nacionalidades invadiam as terras indígenas para coloniza – lãs e escraviza – los, apenas visando lucros.
Com a invasão das terras indígenas pelos europeus os conflitos aumentavam a cada dia. Tribos foram dizimadas, outras fugiram mata adentro. Os brancos queriam a todo custo àquelas terras, para eles era um mundo promissor, pois o Brasil era cheio de riquezas principalmente ouro além do pau – Brasil. Nessa guerra os europeus levaram vantagem porque estavam mais bem armados que os índios que usavam armas rudimentares feitas artesanalmente.
Em um poema, o padre José de Anchieta, descreveu o quanto os índios sofreram durante o governo de Mem de Sá, que na época era o segundo governado geral do Brasil e usava métodos nada ortodoxos, o que contribuía para o extermínio de algumas tribos.
A violência, intolerância, prepotência e ganância imperavam. Foi uma verdadeira matança humana. Mais de 300 aldeias indígenas foram destruídas. Anchieta usou as seguintes palavras para definir a brutalidade sofrida pelos índios:
“A gente que de vinte anos a esta parte é gastada nesta Bahia, parece coisa que não se pode crer, porque nunca ninguém cuidou que tanta gente se gastasse nunca. Vão ver agora os engenhos e fazendas da Bahia, e acha- los cheios de negros da guiné e muito poucos da terra se perguntaram por tanta gente, deram que morreu.”
Também neste poema, ele descreve o sofrimento dos índios:
“Quem poderá contar os gestos heróicos do chefe à frente dos soldados, na imensa mata:
Cento e sessenta as aldeias incendiadas.
Mil casas arruinadas pela chamada devoradora.
Assolados os campos, com suas riquezas.
Passado tudo ao fim da espada.”
A carnificina era degradante, algumas tribos foram infectadas com as doenças que os brancos trouxeram para o Brasil. No século XVI, uma epidemia de varíola atingiu o recôncavo Baiano e 40 mil índios foram contaminados, quase todos morreram e os poucos que sobreviveram estavam fracos e desperançosos.
A coroa portuguesa fazia vistas grossas à escravidão indígenas e apoiavam os colonos paulistas que estavam usando os índios como escravos, porque os negros africanos eram caros. Estes colonos invasores queriam as terras indígenas a todo custo e não mediam esforços para consegui – los.
Os jesuítas tinham a convicção de que as terras pertenciam aos índios, mas para os invasores eles eram considerados bichos, não tinham direito a nada e estavam condenados a viver em escravidão.
Os jesuítas vieram ao Brasil para pregar o evangelho e catequizar os índios, só que o plano de evangelização deles não teve êxito, devido à oposição dos colonos invasores que praticamente os obrigaram a servirem de amansadores de índios e força – los a trabalhar para eles sem nada a receber. Portanto os jesuítas também foram considerados responsáveis pelo extermínio de algumas tribos.
Durante décadas os europeus não mostraram nenhum arrependimento pelos milhares de índios mortos. A ambição deles era desmedida, que segundo Darcy Ribeiro, conquistar o reino do mundo para eles era o limite.

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