quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Iale Campos

O
povo
brasileiro



Ficha Bibliográfica: Ribeiro, Darcy. O Povo brasileiro. Questões abertas: A formação e o sentido do Brasil. 2º edição.


O Novo Mundo
(Páginas 19 á 41)

• Nessa confluência, que se dá sob a regência dos portugueses, matrizes raciais. Díspares, tradições culturais distintas, formações sociais defasadas se enfrentam e se fundem para dar lugar a um povo novo (Ribeiro 1970), num novo modelo de estruturação societária. (pág. 19)

• A confluência de tantas e tão variadas matrizes formadoras poderia ter resultado numa sociedade multiétnica, dilacerada pela oposição de componentes diferenciados e imiscíveis. (pág. 20)

• O que tenham os brasileiros de singular em relação aos portugueses decorre das qualidades diferenciadoras oriundas de suas matrizes indígenas e africanas; da proporção particular em que elas se congregaram no Brasil; das condições ambientais que enfrentaram aqui e, ainda, da natureza dos objetivos de produção que as engajou e reuniu. (pág. 20)

• A urbanização, apesar de criar muitos modos citadinos de ser, contribuiu para ainda. Mais uniformizar os brasileiros no plano cultural, sem, contudo, borrar suas diferenças. A industrialização, enquanto gênero de vida que cria suas próprias paisagens humanas plasmou ilhas fabris em suas regiões. As novas formas de comunicação de massa estão funcionando ativamente como difusoras e uniformizadoras de novas formas e estilos culturais. (pág. 21)

• Essa unidade resultou de um processo continuado e violento de unificação política, logrado mediante um esforço deliberado de supressão de toda identidade étnica discrepante e de repressão e opressão de toda tendência virtualmente separatista. Inclusive de movimentos sociais que aspiravam fundamentalmente edificar uma sociedade mais aberta e solidária. (pág. 23)

• A façanha que representou o processo de fusão racial e cultural é negada, desse modo, no nível aparentemente mais fluido das relações sociais, opondo à unidade de um denominador cultural comum, com que se identifica um povo de 160 milhões de habitantes, a dilaceração desse mesmo povo por uma estratificação classista de nítido colorido racial e do tipo mais cruamente desigualitário que se possa conceber. (pág. 24)


• O grande desafio que o Brasil enfrenta é alcançar a necessária lucidez para concatenar essas energias e orientá-las politicamente, com clara consciência dos riscos de retrocessos e das possibilidades de liberação que elas ensejam. (pág. 25)

• Cada vez que um político nacionalista ou populista se encaminha para a revisão da institucionalidade, as classes dominantes apelam para a repressão e a força. (pág. 26)


O NOVO MUNDO

. MATRIZES ÉTNICAS.


• Nos últimos séculos, porém, índios de fala tupi, bons guerreiros, se instalaram dominadores, na imensidade da área, tanto à beira-mar, ao longo de toda a costa atlântica e pelo Amazonas acima, como subindo pelos rios principais, como o Paraguai, o Guaporé, o Tapajós, até suas nascentes. (pág. 29)

• No plano étnico-cultural, essa transfiguração se dá pela gestação de uma etnia nova, que foi unificando, na língua e nos costumes, os índios desengajados de seu viver gentílico, os negros trazidos de África, e os europeus aqui guerenciados. Era o brasileiro que surgia, construído com os tijolos dessas matrizes à medida que elas iam sendo desfeitas. (pág. 30)

• Na escala da evolução cultural, os povos Tupi davam os primeiros passos da revolução agrícola, superando assim a condição paleolítica, tal como ocorrera pela primeira vez, há 10 mil anos, com os povos do velho mundo. (pág. 31)

• Daí a importância dos sítios privilegiados, onde a caça e a pesca abundantes garantiam com maior regularidade a sobrevivência do grupo e permitiam manter aldeamentos maiores. (pág. 32)

• Um dos cronistas da expansão civilizatória sobre seus territórios nos diz, claramente, que "pouco faltou para que exterminassem todos os espanhóis do Paraguai" (Félix de Azara apud Holanda 1986:70). Francisco Rodrigues do Prado (1839: I, 15), membro da Comissão de Limites da América hispânica e da portuguesa, avaliou em 4 mil o número de paulistas mortos por eles ao longo das vias de comunicação com Cuiabá. (pág. 35)

• Ao contrário dos povos que aqui encontraram, todos eles estruturados em tribos autônomas, autárquicas e não estratificadas em classes, o enxame de invasores era a presença local avançada de uma vasta e vetusta civilização urbana e classista. (pág. 37)

• Era a humanidade mesma que entrava noutra instância de sua existência, na qual se extinguiriam milhares de povos, com suas línguas e culturas próprias e singulares, para dar nascimento às macroetnias maiores e mais abrangentes que jamais se viu. (pág. 39)


O ENFRENTAMENTO DOS MUNDOS


• Os índios perceberam a chegada do europeu como um acontecimento espantoso, só assimilável em sua visão mítica do mundo. Seriam gente de seu deus sol, o criador - Maíra -, que vinha milagrosamente sobre as ondas do mar grosso. Não havia como interpretar seus desígnios, tanto podiam ser ferozes como pacíficos espoliadores ou dadores. (pág. 42)

• Esse foi o primeiro efeito do encontro fatal que aqui se dera. Ao longo das praias brasileiras de 1500, se defrontaram, pasmos de se verem uns aos outros tal qual eram, a selvageria e a civilização. Suas concepções, não só diferentes, mas opostas, do mundo, da vida, da morte, do amor, se chocaram cruamente. Os navegantes, barbudos, hirsutos, fedentos de meses de navegação oceânica, escalavrados de feridas do escorbuto, olhavam, em espanto, o que parecia ser a inocência e a beleza encarnadas. Os índios, vestidos da nudez emplumada, esplêndidos de vigor e de beleza, tapando as ventas contra a pestilência, viam, ainda mais pasmos, aqueles seres que saíam do mar. (pág. 44)

• Aos olhos dos índios, os oriundos do mar oceano pareciam aflitos demais. Por que se afanavam tanto em seus fazimentos? Por que acumulavam tudo, gostando mais de tomar e reter do que de dar, intercambiar? Sua sofreguidão seria inverossímil se não fosse tão visível no empenho de juntar toras de pau vermelho, como se estivessem condenados, para sobreviver, a alcançá-las e embarcá-las incansavelmente? Temeriam eles, acaso, que as florestas fossem acabar e, com elas, as aves e as caças? Que os rios e o mar fossem secar, matando os peixes todos?(pág. 45 e 46)

• Para os índios, a vida era uma tranqüila fruição da existência, num mundo dadivoso e numa sociedade solidária. Claro que tinham suas lutas, suas guerras. Mas todas concatenadas, como prélios, em que se exerciam valentes. (pág. 47)

• Frente à invasão européia, os índios defenderam até o limite possível seu modo de ser e de viver. Sobretudo depois de perderem as ilusões dos primeiros contatos pacíficos, quando perceberam que a submissão ao invasor representava sua desumanização como bestas de carga. Nesse conflito de vida ou morte, os índios de um lado e os colonizadores do outro punham todas as suas energias, armas e astúcias. (pág. 49)

• Em poucas décadas desapareceram as povoações indígenas que as caravelas do descobrimento encontraram por toda a costa brasileira e os primeiros cronistas contemplaram maravilhados. Em seu lugar haviam se instalado três tipos novos de povoações. O primeiro e principal, formado pelas concentrações de escravos africanos dos engenhos e portos. Outro disperso pelos vilarejos e sítios da costa ou pelos campos de criação de gado, formado principalmente por mamelucos e brancos pobres. O terceiro esteve constituído pelos índios incorporados à empresa colonial como escravos de outros núcleos ou concentrados nas aldeias, algumas das quais conservavam sua autonomia, enquanto outras eram regidas por missionários. (pág. 53)

• A Coroa portuguesa apoiou nominalmente os missionários, embora jamais negasse autorização para as "guerras justas", reclamadas pelo colono para aprisionar e escravizar tanto os índios bravos e hostis como os simplesmente arredios. (pág. 53)

• Também foi evidentemente nefasto o papel dos jesuítas, retirando os índios de suas aldeias dispersas para concentrá-los nas reduções, onde, além de servirem aos padres e não a si mesmos e de morrerem nas guerras dos portugueses contra os índios hostis, eram facilmente vitimados pelas pragas de que eles próprios, sem querer, os contaminavam. (pág. 55)

• Aqueles índios, tão diferentes dos europeus, que os viam e os descreviam, mas também tão semelhantes, seriam eles também membros do gênero humano, feitos do mesmo barro pelas mãos de Deus, à sua imagem e semelhança? Caíram na impiedade. (pág. 57)

• A tarefa a que os missionários se propunham não era transplantar os modos europeus de ser e de viver para o Novo Mundo. Era, ao contrário, recriar aqui o humano, desenvolvendo suas melhores potencialidades, para implantar, afinal, uma sociedade solidária, igualitária, orante e pia, nas bases sonhadas pelos profetas. Essa utopia socialista e seráfica floresce nas Américas, recorrendo às tradições do cristianismo primitivo e às mais generosas profecias messiânicas. (pág. 60 e 61)

• A utopia jesuítica esboroou e os inacianos foram expulsos das Américas, entregando, inermes, desvirilizados, os seus catecúmenos ao sacrifício e à escravidão na mão possessa dos colonos. O mesmo aconteceu com o sonho mirífico dos franciscanos, reduzido à visão do que era a boçalidade do mundo colonial, ínvio, ímpio e bruto. (pág. 62)



MOINHOS DE GASTAR GENTE


OS BRASILÍNDIOS

• A expansão do domínio português terra adentro, na constituição do Brasil, é obra dos brasilíndios ou mamelucos. Gerados por pais brancos, a maioria deles lusitanos, sobre mulheres índias, dilataram o domínio português exorbitando a dação de papel das Tordesilhas, excedendo a tudo que se podia esperar. (pág. 106)

• Os brasilíndios foram chamados de mamelucos pelos jesuítas espanhóis horrorizados com a bruteza e desumanidade essa gente castigadora de seu gentio materno. (pág. 107)

• Friederici (1967), comparando-os com seus êmulos do Canadá, os coureurs de boi, que se multiplicaram nos primeiros séculos, supõe que não se lhes abriria outro caminho histórico senão o extermínio quando sociedades européias mais estruturadas, fundadas em famílias regulares, colonizaram aquelas áreas.É pelo menos curioso o contraste entre o desempenho histórico daqueles mateiros nortistas, vestindo roupas de couro, calçando mocassins e só falando as línguas indígenas, em comparação com a energia pungente dos mamelucos ou brasilíndios que vieram a fazer o Brasil. (pág. 109)

• Esses mateiros do norte representaram papel capital. Foram eles que devassaram o Canadá e o ocuparam até a venda do território aos ingleses. Creio que são descendentes deles os Kevekuá, que amargam uma vizinhança hostil com os anglo-canadenses que ocuparam o território, numa colonização feita por famílias regulares.
• No Brasil seu êxito foi imensamente maior, porque passaram a constituir o cerne mesmo da nação e, somando uns 14 milhões, juntamente com os negros abrasileirados, puderam suportar a invasão gringa mantendo sua cara e sua identidade. (pág. 110)


OS AFRO-BRASILEIROS


• Os negros do Brasil foram trazidos principalmente da costa ocidental africana. (pág. 114)


• A diversidade lingüística e cultural dos contingentes negros introduzidos no Brasil, somada a essas hostilidades recíprocas que eles traziam da África e à política de evitar a concentração de escravos oriundos de uma mesma etnia, nas mesmas propriedades, e até nos mesmos navios negreiros, impediu a formação de núcleos solidários que retivessem o patrimônio cultural africano. (pág. 115)

• O negro transita, assim, da condição de boçal – preso ainda à cultura autóctone e só capaz de estabelecer uma comunicação primária com os demais integrantes do novo contorno social - à condição de ladino - já mais integrado na nova sociedade e na nova cultura. (pág. 116)



OS NEOBRASILEIROS

• Ao contrário, mantinham vínculos mercantis externos para prover-se dos referidos bens em troca do seu principal artigo de exportação, que fora, inicialmente, o pau-de-tinta, depois, o índio apresado como escravo e, afinal, a produção de alguma mercadoria de exportação. Produzir essa mercadoria passou a ser sua razão de viver.
• Tal indianidade era, sem dúvida, mais aparente que real, porque o apelo às formas indígenas de adaptação à natureza, a sobrevivência das antigas tradições, o próprio uso da língua indígena, estavam postos, agora, a serviço de uma entidade nova, muito mais capaz de crescer e expandir-se. (pág. 121)

• O idioma tupi foi a língua materna de uso corrente desses neobrasileiros até meados do século XVIII. De fato, o tupi, inicialmente, se expandiu mais que o português como a língua da civilização (sobre a formação e a difusão da língua geral ver Cortesão 1958 e Holanda 1945). Com efeito, a língua geral, o nheengatu, que surge no século XVI do esforço de falar o tupi com boca de português, se difunde rapidamente como a fala principal tanto dos núcleos neobrasileiros como dos núcleos missionários. (pág. 122)


• A unidade de comando dessa estrutura do poder permitiu às comunidades nascentes crescerem e se diferenciarem, cada vez mais, num componente rural e outro urbano. (pág. 124)


OS BRASILEIROS



• O nome Brazil geralmente identificado com o pau-de-tinta é na verdade muito mais antigo. Velhas cartas e lendas do mar oceano traziam registros de uma ilha Brasil referida provavelmente por pescadores ibéricos que andavam à cata de bacalhau (cf.Gandia 1929 ). Mas ele foi quase imediatamente referido à nova terra, ainda que o governo português quisesse lhe dar no mes pios, que não pegaram. (pág. 126)


• É bem possível que ela só se tenha fixado quando a sociedade local se enriqueceu, com contribuições maciças de descendentes dos contingentes africanos, já totalmente desafricanizados pela mó aculturativa da escravidão. Esses mulatos ou eram brasileiros ou não eram nada, já que a identificação com o índio, com o africano ou com o brasilíndio era impossível. (pág. 128)

• Nesse sentido, o Brasil é a realização derradeira e penosa dessas gentes tupis, chegadas à costa atlântica um ou dois séculos antes dos portugueses, e que, desfeitas e transfiguradas, vieram dar no que somos: uns latinos tardios de além-mar,amorenados na fusão com brancos e com pretos,deculturados das tradições de suas matrizes ancestrais, mas carregando sobrevivências delas que ajudam a nos contrastar tanto com os lusitanos.Como se vê, estava constituída já uma fórmula extraordinariamente feliz de adaptação do homem ao trópico como uma civilização vinculada ao mundo português mas profundamente diferenciada dele. Sobre essa massa de neobrasileiros feitos pela transfiguração de suas matrizes é que pesaria a tarefa de fazer Brasil. (pág. 130)

O SER E A CONSCIÊNCIA


• Lamentavelmente, o processo de construção da etnia não deixa marcas reconhecíveis senão nos registros de um grupo tão exótico e ambíguo como os letrados. (pág. 133)

• Muito se fala de identidade em termos psicologísticos e filosóficos que pouco acrescentam ao fato concreto e visível: é o surgimento do brasileiro, construído por si mesmo, já plenamente ciente de que era uma gente nova e única, se não hostil pelo menos desconfiada de todas as outras.(pág. 140)


Observação: O livro "O Povo Brasileiro", lançado em 1995, foi anunciado como a obra-síntese do antropólogo Darcy Ribeiro, que ele levou exatos 30 anos para concluir.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Luana Michele Andrade

O Povo Brasileiro

• Darcy Ribeiro foi um antropólogo, escritor e político brasileiro que se preocupava com os índios e a educação do país. Foi um dos maiores intelectuais brasileiros do século xx. Darcy foi contundente, polêmico e revolucionário em sua incansável luta para construir um modelo justo para todos os cidadãos , através da educação.

• O livro O Povo Brasileiro é uma obra que aborda a historia da formação do povo brasileiro, procura explicar por que,e como, os brasileiros são o que são. Darcy Ribeiro apresenta a formação e o sentido do Brasil.



 A formação e o sentido do Brasil:

“[...] apesar de sobreviverem na fisionomia somática e no espírito dos brasileiros os signos de sua múltipla ancestralidade, não se diferenciaram em antagônicas minorias raciais, culturais ou regionais, vinculadas a lealdades étnicas próprias e disputantes de autonomia frente à nação.”
(Darcy Ribeiro Pag. 20)


“ A sociedade e a cultura brasileira são conformadas como variantes da versão lusitana da tradição civilizatória européia ocidental, diferenciadas por coloridos herdados dos índios americanos e dos negros africanos ”
( Pág. 20)


“ Cada núcleo tupi vivia em guerra permanente contra as demais tribos alojadas em sua área de expansão e ate mesmo contra seus vizinhos da mesma matriz culturas ”
( Fernandes 1952 - Pág.34)


“ Muitos outros povos indígenas tiveram papel na formação do povo brasileiro. Alguns deles como escravos preferências sua familiaridade com a tecnologia do paulistas antigos, como os Paresi . Outros como inimigos irreconciliáveis, imprestáveis para escravos por que seu sistema adaptativo contrastava demais como o dos povos Tupi ”
(Pág.35)


 O enfrentamento dos Mundos:


“ Os índios souberam que era por culpa sua, de sua iniqüidade, de seus pecados, que o bom deus do céu caíra sobre eles, como um cão selvagem, ameaçando lança-los para sempre nos infernos”.
(Pág. 43)

“ Paraos índios que ali estavam, nus na praia, o mundo era um luxo de se viver, tão rico de aves, de peixe, de raízes, de frutos, de flores, de sementes, que poderia dar as alefrias de caçar, de pescar, de plantar e colher a quanta gente aqui viesse ter ” ( Pág. 44)


“ Sem embargo mais ainda que as espadas e os arcabuzes, as granes armas da conquista, responsáveis principais pela depopulação o Brasil, formam as enfermidades desconhecidas dos índios com que os invasores os contaminaram ”
( Pág. 52)

“ Os jesuítas, porem arrependidos e seu papel inicial de aliciadores de índios para os colonos, inspirados na experiência dos seus companheiros paraguaios, quiseram pôr em prática, também no Brasil, um projeto utópico de reconstrução intencional na vida social dos índios destribalizados ”
( Pág. 54)

“ Os índios, vistos em principio como a boa gente bela, que recebeu dadivosa ser vistos como canibais, comedores de carne humana, totalmente detestáveis ”aos primeiros navegantes, passaram logo a
( Pág. 57)

 Moinhos de gastar gente:


“[...[ Exigência de um triste viver cotidiano e caseiro: teimosamente pelejaram contra a pobreza, e para repará-la não hesitaram em deslocar-se sobre espaços cada vez maiores, desafiando as insidias de um mundo ignorado e talvez inimigos. ”
( Sergio Buarque de Holanda - Pág.106)


“ Não foi tarefa nada fácil ao mameluco se fazer agente principal da historia brasileira. Enfrentaram, de um lado, a odiosidade jesuítica e a má vontade dos reinóis e do outro, todas dificuldades imensas de sua dura vida de sertanistas ”
( Domingo Jorge Velho - Pag. 110)

“Alguns grupos tribais, ainda conscritos a economia colonial, lograram manter certa autonomia na qualidade de aliados dos brancos para suas guerras contra outros índios”
(Pág. 112)

“[...] E se desprezássemos a primeira iniqüidade a que se sujeitou, isto é, sua introdução e submissão forcada, devíamos de considerar em grande parte os castigos que lhes impõem os seus senhores.”
( Davatz - Pág.119)

"[...] A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista."
( Darcy Ribeiro - Pag.120)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Albertina Paz

O POVO BRASILEIRO


Ribeiro, Darcy. O Povo Brasileiro: Procura explicar por que, e como, os brasileiros são o que são. Por que o Brasil ainda não deu certo? São Paulo, 2ª Edição, 2000.

Resumo: Trata-se de uma tentativa de tornar compreensível, por meio de uma explanação histórico-antropológica, como os brasileiros se vieram fazendo a si mesmos para serem o que hoje somos. Uma nova Roma, lavada em sangue negro e sangue índio, destinada a criar uma esplêndida civilização, mestiça e tropical, mais alegre, porque mais sofrida, e melhor, porque assentada na mais bela província da Terra.
MATRIZES ÉTNICAS
Desde o inicio da colonização até os nossos dias, as terras indígenas foram motivo de cobiça e de interesse. E nas disputas com brancos, os grupos indígenas sempre levaram desvantagem.
Os índios foram os primeiros habitantes das terras que hoje formam o Brasil. Quantas pessoas desses povos existem hoje em nosso país? Quantas eram no passado? Quantas serão no futuro?
Neste capitulo, Darcy Ribeiro fala da principal raça encontrada no Brasil pelo portugueses, a nação Tupi. Os primeiros contatos com os portugueses e Tupis não foi nada harmônico, houve desentendimentos e brigas. Os indígenas revoltaram – se com as condições de trabalho impostas a eles, porque estavam sendo escravizados e declararam guerra aos brancos.
Além das guerras com os portugueses, os Tupis viviam em desarmonia com outras tribos de mesma raça e cultura, que estavam alojadas em sua área de expansão. Os conflitos eram sempre pela disputa de terras.
Durante esta disputa entre brancos e índios, até rituais de antropofagia aconteceu, sem falar no genocídio da nação Potiguara e da morte de 4 mil paulistas pelos índios Tupis. Em um discurso de um líder indígena chamado Marçal Tupã, pertencente à nação Guarani – Nhandura, feito ao papa João Paulo II, por ocasião de sua visita ao Brasil em 1980, ele disse: “Nossas terras são invadidas, nossas terras são tomadas, os nossos territórios são invadidos... Dizem que o Brasil foi descoberto, o Brasil não foi descoberto não, Santo padre. O Brasil foi invadido e tomado dos indígenas do Brasil. Essa é a verdadeira história”.
Enfim posso concluir que nos dias de hoje isso ainda acontece, e finalizo com um trecho da entrevista de Darcy Ribeiro feita pela jornalista Paula Saldanha em 1996, onde ele faz um retrato da nossa gente.
ENTREVISTA:
PS: Afinal, Darcy, quem é o povo brasileiro?
DR: Nós todos, somos uma mistura de índios da floresta com negros arrancados da África trazidos para cá, com europeus. Misturando, mesclando essa gente todo nós fizemos um povo mestiço na alma e no corpo e, também, no plano da cultura, porque largaram a cultura européia quando vieram para cá e aprenderam a sabedoria do povo da floresta.

MOINHOS DE GASTAR GENTE
Dando seqüência ao primeiro capitulo, as indagações continuam: Qual a sua descendência? A sua família descende de algum povo indígena? Esta é a maior curiosidade de muitos moradores do nosso país, quando querem descobrir a sua origem.
A presença portuguesa na formação do povo brasileiro do povo brasileiro teve inicio com a chegada desse grupo a terra brasileira. Da união dos portugueses com os índios nasceu o mameluco, que foi chamado de “brasilíndio” pelos jesuítas. No Brasil os mamelucos eram o centro da nação, juntamente com os negros africanos.
Somos um país miscigenado. Diogo Álvares Correia, o “Caramuru” contribuiu para isso, quando se uniu a índia Cataria Paraguaçu. Quando os jesuítas usaram a expressão brasilíndios, acredito que eles se referiram a união de brasileiros com qualquer pessoa de outra nacionalidade, não somente a união com índios.
Para Darcy Ribeiro, onde quer que exista uma nação indígena, mesmo tendo sido agraciados com estudos, eles conservam suas tradições e preservam sua identificação étnica.
O tema Brasil dos portugueses e africanos começou em 22 de abril de 1500, ano da sua descoberta.
A chegada dos escravos africanos ao Brasil também contribuiu para o, aumento da nossa miscigenação. No inicio essa contribuição não foi muita relevância para a formação do povo brasileiro, pois eles trabalham apenas como escravos. Com o envolvimento dos senhores donos de engenhos, que muitas vezes pegavam suas escravas a força e com elas tinham relações, os negros tal qual os brancos a partir daí, começaram a integrar – se na etnia brasileira.
Sabemos que nós brasileiros, somos grupos formadores do nosso povo. Tanto brasilíndio, afro-brasileiros, neo-brasileiro, europeus (em especial os portugueses), africanos e um grande grupo de imigrantes que vieram de outros países para viver no Brasil e colonizar o nosso território.
O processo de construção da etnia brasileira foi o mais variado possível. Povos de diferentes origens e línguas continuaram chagando ao nosso país. Uma diversidade de nações: Suíços, italianos, japoneses, coreanos, cheneses, árabes, judeus, canadenses, além de povos latinos americanos, como os peruanos, chilenos, bolivianos e paraguaios. Pessoas de diversos países do mundo se misturaram a nós brasileiros.
Após tantos relatos, Darcy Ribeiro conclui que o Brasil é um país multirracial.

O ENFRENTAMENTO DOS MUNDOS
Os índios estavam preocupados com a presença dos invasores. Pessoas de várias nacionalidades invadiam as terras indígenas para coloniza – lãs e escraviza – los, apenas visando lucros.
Com a invasão das terras indígenas pelos europeus os conflitos aumentavam a cada dia. Tribos foram dizimadas, outras fugiram mata adentro. Os brancos queriam a todo custo àquelas terras, para eles era um mundo promissor, pois o Brasil era cheio de riquezas principalmente ouro além do pau – Brasil. Nessa guerra os europeus levaram vantagem porque estavam mais bem armados que os índios que usavam armas rudimentares feitas artesanalmente.
Em um poema, o padre José de Anchieta, descreveu o quanto os índios sofreram durante o governo de Mem de Sá, que na época era o segundo governado geral do Brasil e usava métodos nada ortodoxos, o que contribuía para o extermínio de algumas tribos.
A violência, intolerância, prepotência e ganância imperavam. Foi uma verdadeira matança humana. Mais de 300 aldeias indígenas foram destruídas. Anchieta usou as seguintes palavras para definir a brutalidade sofrida pelos índios:
“A gente que de vinte anos a esta parte é gastada nesta Bahia, parece coisa que não se pode crer, porque nunca ninguém cuidou que tanta gente se gastasse nunca. Vão ver agora os engenhos e fazendas da Bahia, e acha- los cheios de negros da guiné e muito poucos da terra se perguntaram por tanta gente, deram que morreu.”
Também neste poema, ele descreve o sofrimento dos índios:
“Quem poderá contar os gestos heróicos do chefe à frente dos soldados, na imensa mata:
Cento e sessenta as aldeias incendiadas.
Mil casas arruinadas pela chamada devoradora.
Assolados os campos, com suas riquezas.
Passado tudo ao fim da espada.”
A carnificina era degradante, algumas tribos foram infectadas com as doenças que os brancos trouxeram para o Brasil. No século XVI, uma epidemia de varíola atingiu o recôncavo Baiano e 40 mil índios foram contaminados, quase todos morreram e os poucos que sobreviveram estavam fracos e desperançosos.
A coroa portuguesa fazia vistas grossas à escravidão indígenas e apoiavam os colonos paulistas que estavam usando os índios como escravos, porque os negros africanos eram caros. Estes colonos invasores queriam as terras indígenas a todo custo e não mediam esforços para consegui – los.
Os jesuítas tinham a convicção de que as terras pertenciam aos índios, mas para os invasores eles eram considerados bichos, não tinham direito a nada e estavam condenados a viver em escravidão.
Os jesuítas vieram ao Brasil para pregar o evangelho e catequizar os índios, só que o plano de evangelização deles não teve êxito, devido à oposição dos colonos invasores que praticamente os obrigaram a servirem de amansadores de índios e força – los a trabalhar para eles sem nada a receber. Portanto os jesuítas também foram considerados responsáveis pelo extermínio de algumas tribos.
Durante décadas os europeus não mostraram nenhum arrependimento pelos milhares de índios mortos. A ambição deles era desmedida, que segundo Darcy Ribeiro, conquistar o reino do mundo para eles era o limite.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Rodrigo Casales

RIBEIRO, Darcy, 1922-1997. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. Ed. Companhia das Letras, 2ª edição, 1995, São Paulo – SP

Darcy Ribeiro nasceu em Minas Gerais. Formou-se em Antropologia, no estado de São Paulo, e fundamentou a maioria de seus trabalhos ao estudo dos índios, da Amazônia, do Pantanal e do Brasil Central. Foi o fundador do Museu do Índio e do Parque Indígena do Xingu. Defendeu veemente a causa indígena. Criou a Universidade de Brasília; idealizou a Universidade Estadual do Norte Fluminense; foi Ministro da Educação e Ministro-Chefe da Casa Civil.
O Povo Brasileiro é uma obra que busca refletir sobre a formação e o sentido do Brasil. Reconstituindo a história desde as matrizes afro, lusa e tupi, Darcy Ribeiro trabalha contra o etnocentrismo em relação a visão sobre a ineficiência lusitana na colonização do país, uma vez que “nessa confluência, que se dá sob a regência dos portugueses, matrizes raciais díspares, tradições culturais distintas, formações sociais defasadas se enfrentam e se fundem para dar lugar a um povo novo” (p.19, l.6) nasce também uma nova etnia, um novo modelo de estruturação social e econômico, e se a expansão européia é responsável pelo desgaste da população que recrutou no país, também é pela tradição civilizatória. Ainda na introdução, o autor atenta para o fato de que “a confluência de tantas e tão variadas matrizes formadoras poderia ter resultado numa sociedade multiétnica, dilacerada pela oposição de componentes diferenciados e imiscíveis” (p.20, l.14) no entanto ocorreu o contrário, já que além da fisionomia e da consciência de uma herança cultural os povos não se dividiram em minorias regionais, raciais, existindo apenas algumas exceções que vivem como tribos cercadas pela população brasileira, tendo os seus costumes conservados e ainda assim não sendo capaz de mudar a unidade étnica brasileira, que é formada por três aspectos distintos: o ecológico, o econômico e a imigração. E é considerando as paisagens já distintas no meio ambiente, as novas formas de produção e as novas nações recém-chegadas ao país que Darcy Ribeiro distingui o brasileiro “como sertanejos do Nordeste, caboclos da Amazônia, crioulos do litoral, caipiras do Sudeste e Centro do país, gaúchos das campanhas sulinas, além de ítalo-brasileiros, teuto-brasileiros, nipo-brasileiros etc” (p.21, l.15), e, juntos, esses grupos formam uma nação, se comportando como uma só gente independente das diferentes adaptações regionais, ou da fisionomia e dos distintos modos de produção. É essa unidade nacional, diferente da uniformidade cultural européia, o resultado da formação do povo brasileiro, onde “esconde-se uma profunda distância social, gerada pelo tipo de estratificação que o próprio processo de formação nacional produziu” (p.23, l.10); esse antagonismo de classes opões uma camada privilegiada a maioria da população, fazendo das distâncias sociais e econômicas fatores a serem mais relevados que as diferenças sociais, pois “O povo-nação não surge no Brasil da evolução de formas anteriores de sociabilidade, em que grupos humanos se estruturam em classes opostas, mas se conjugam para atender às suas necessidades de sobrevivência e progresso” (p.23, l. 17). Porém, os estratos sociais acabam por passar despercebidos pelos brasileiros, que se preocupam apenas com a democracia racial, ignorando a barreira existente entre os ricos e os pobres. “O povo-massa, sofrido e perplexo, vê a ordem social como um sistema sagrado que privilegia uma minoria contemplada por Deus, à qual tudo é consentido e concedido” (p.24, l.26), talvez por isso essa ideologia se potencialize através das lutas dos índios e dos negros contra a escravidão, e atos assim acontecem até hoje, quando grupos buscam um projeto alternativo de estruturação social, mas é importante lembrar que por conta de lutas como essas índios e negros foram chacinados sendo sempre vencidos a escuridão. Nos últimos parágrafos da introdução, Darcy Ribeiro atenta para o grande desafio do Brasil que “é alcançar a necessária lucidez para concatenar essas energias e orientá-las politicamente, com clara consciência dos riscos de retrocessos e das possibilidades de liberação que elas ensejam” ( p.25, l.22).
O primeiro texto do capítulo “O Novo Mundo” tem como base as matrizes étnicas do país. Discorrendo sobre a Ilha Brasil, a matriz tupi e a lusitanidade, Darcy Ribeiro fala sobre o choque entre as culturas a partir do descobrimento da Ilha Brasil. Um conflito que não foi somente biótico, mas também ecológico, econômico e social, umas vez que desde a guerra bacteriológica travada pelos povos, da disputa de territórios e riquezas até a mercantilização das formas de produção transfigurando uma nova etnia. “Era o brasileiro que surgia, construído com os tijolos dessas matrizes à medida que elas iam sendo desfeitas (p.30, l.22).
O autor nos dá uma nova visão sobre o inicio da formação do Brasil, “porque só temos o testemunho de um dos protagonistas, o invasor. Ele é quem nos fala de suas façanhas. É ele, também, quem relata o que sucedeu aos índios e aos negros, raramente lhes dando a palavra de registro de suas próprias falas. O que a documentação copiosíssima nos conta é a versão do dominador” (p.30, l.27). Diante disso a matriz tupi é detalhada, porque “apesar da unidade lingüística e cultural que permite classificá-los numa só macroetnia, oposta globalmente aos outros povos designados pelos portugueses como tapuias (ou inimigos), os índios do tronco tupi não puderam jamais unificar-se numa organização política que lhes permitisse atuar conjugadamente. (pp.32,23; l.29,1), porém os povos indígenas não conseguiram estabelecer uma paz estável com os portugueses, o que acarretava em novas disputas para dominar cada região. No que diz respeito a lusitanidade, Darcy Ribeiro não deixa de citar os interesses transformadores da revolução mercantil ativando o complexo poderio português: “suas ciências eram um esforço de concatenar com um saber a experiência que se ia acumulando. E sobretudo, fazer praticar esse conhecimento para descobrir qualquer terra achável, a fim de a todo o mundo estruturar num mundo só, regido pela Europa. Tudo isso com o fim de carrear para lá toda a riqueza saqueavel e, depois, todo o produto da capacidade de produção dos povos conscritos” (pp.38,39, l.34,1).
No segundo texto, “O Enfrentamento dos Mundos”, o autor apresenta as opostas visões, desde como os índios perceberam a chegada do europeu o que “mais tarde, com a destruição das bases da vida social indígena, a negação de todos os seus valores, o despojo, o cativeiro, muitíssimos índios deitavam em suas redes se deixavam morrer” (p.43, l.7). até como a civilização portuguesa se impôs “primeiro, como uma epidemia de pestes mortais. Depois, pela dizimação através de guerras de extermínio e da escravização (p.41, l.8). Em pouco tempo as povoações indígenas desapareceram dando lugar aos escravos africanos e aos mamelucos e brancos pobres, além de índios escravos ou concentrados em aldeias, e missionários seguindo o processo jesuítico de colonização do Brasil. “Assim, foi surgindo uma etnologia recíproca, através da qual uns iam figurando o outro. A ela correspondeu, na Europa, um compêndio de interpretações” (p.57, l.15).
Já no segundo texto do capítulo “Gestação Étnica” intitulado como “Moinhos de gastar gente”, Darcy fala do processo de fusão da matrizes indígena, negra e lusitana. Primeiro descreve a relação entre o português e os brasilíndios: “o que buscavam no fundo dos matos a distâncias abismais era a única mercadoria que estava a seu alcance: índios para uso próprio e para a venda; índios inumeráveis, que suprissem as suas necessidades e se renovassem à medida que fossem sendo desgastados; índios que lhes abrissem roças, caçassem, pescassem, cozinhassem, produzissem tudo o que comiam, usavam ou vendiam; índios, peças de carga, que lhes carregassem toda a carga, ao longo dos mais longos e ásperos caminhos” (p.106, l.17). Depois o autor fala sobre a contribuição do negro para a cultura país que “foi pouco relevante na formação daquela protocélula original da cultura brasileira. Aliciado para incrementar a produção açucareira, comporia o contingente fundamental da mão-de-obra. Apesar do seu papel como agente cultural ter sido mais passivo que ativo, o negro teve uma importância crucial, tanto por sua presença como a massa trabalhadora que produziu quase tudo que aqui se fez, como por sua introdução sorrateira mas tenaz e continuada, que remarcou o amálgama racial e cultural brasileiro com suas cores mais fortes (p.114, l.11). E por fim, depois de discorrer sobre os neobrasileiros e o processo de formação dos povos americanos, Darcy exprime o que sente a respeito do processo de construção da etnia e o ser e a consciência.
“O Povo brasileiro” tem ainda mais três capítulos, onde o autor percorre a história do Brasil para explicar as suas distinções do país como Brasil crioulo, Brasil caboclo, Brasil sertanejo, Brasil caipira e Brasis sulinos. No último capítulo Darcy Ribeiro escreve sobre o destino do país.


Por: Rodrigo da Silva Casales, cursando 4º semestre em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda, 2009, 01/setembro.